À mesa da avaliação: a cultura de avaliar a comida
Você já parou para pensar que estamos constantemente avaliando e sendo avaliados? Vivendo em uma sociedade da avaliação? E que se pensarmos na comida, isso está acontecendo da mesma forma?
Como dito no nosso último artigo, hoje falaremos sobre avaliação de modo geral e especialmente sobre a comida, mas aqui vamos aprofundar um pouco mais na questão buscando suas raízes e como isso impacta toda nossa sociedade atual.
Rodrigo Oliveira, renomado chef do Mocotó em São Paulo, fez nas últimas semanas uma publicação desabafando sobre algumas críticas e avaliações de seu restaurante e apontou alguns questionamentos sobre esses processos.
Atualmente, podemos dizer que vivemos em uma sociedade da avaliação, nessa sociedade a avaliação se torna central em diversas esferas da vida social, como na educação, no trabalho, na saúde e por que não na comida? Neste contexto, as pessoas e instituições estão constantemente sendo medidas e comparadas com base em critérios de desempenho (fica a dica do livro Sociedade do Cansaço do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, que descreve um pouco mais sobre a sociedade do desempenho).
Na história da comida e da gastronomia isso começou a ser feito no início do século XIX com Grimod de la Reynière um dos precursores na crítica gastronômica e que influenciou o que futuramente estaria nos famosos guias Michelin e Gault-Millaut.
Essa cultura de avaliação pode trazer benefícios, como a busca por qualidade e a promoção da transparência, mas também levanta questões críticas. Por exemplo, a ênfase excessiva em métricas pode levar à superficialidade, onde o foco se desloca do aprendizado e do desenvolvimento pessoal para o cumprimento de indicadores. Além disso, há preocupações sobre como essas avaliações podem perpetuar desigualdades, já que nem todos têm as mesmas oportunidades de desempenho.
Quando falamos de comida as pessoas passam a avaliar o que é bom ou ruim, o que é bonito ou feio. Com as redes sociais isso ficou mais claro, enquanto antigamente era um atributo dos “críticos”, hoje todas as pessoas têm acesso a escrever, fazer vídeos e avaliar o que bem entender sobre a comida, vários canais estão disponíveis para isso, sendo no Google, Facebook, Instagram ou qualquer outra rede social. Além disso, podemos citar as avaliações em competições de realities shows de comida ou de disputa de melhores pratos nos festivais gastronômicos espelhados pelo Brasil e pelo mundo.
Mas afinal, não estamos vivendo em uma cultura da avaliação? Quando compramos um produto ou escolhemos um restaurante ou quando pegamos um Uber, sempre ficamos de olho na avaliação que as pessoas fazem, mas é importante ressaltar que isso pode impactar a saúde mental, gerando estresse e ansiedade tanto nos profissionais e até mesmo no próprio consumidor.
O gosto ou o que compramos e comemos pode ser moldado a partir das avaliações, sendo elas positivas ou negativas. Por exemplo, quando vemos uma avaliação muito ruim de uma pessoa, lugar ou insumo tendemos a não nos arriscarmos a comermos, mesmo sem nunca ter provado e já julgamos de antemão o que gostamos ou não.
Portanto, temos que parar e refletir sobre como as avaliações são feitas e para que propósito, buscar um equilíbrio que promova tanto a responsabilidade quanto o bem-estar é fundamental para que todos possamos viver em uma sociedade mais tolerante e diversificada.
Vamos viver com mais leveza e continuar essa caminhada procurando sempre fazer um paralelo sobre a comida, a cultura e nossa sociedade.