Como um país consegue reciclar sua comida?
Reflexões sobre o sistema de reciclagem da Coreia do Sul
Você já imaginou um país que recicla mais de 97% de seus resíduos alimentares? Parece uma meta inatingível, mas na Coreia do Sul, é realidade. Todos os anos, o país processa cerca de 4,56 milhões de toneladas de restos de alimentos de residências, restaurantes e empresas menores, segundo o Sistema Nacional de Gestão de Resíduos de 2022. Deste total, 4,44 milhões de toneladas são recicladas para outros usos – uma taxa impressionante de 97,5%.
Para contextualizar, nos Estados Unidos, 60% dos resíduos alimentares acabam em aterros. Já no mundo todo, estimativas da ONU indicam que, só em 2019, foram desperdiçadas cerca de 931 milhões de toneladas de alimentos em residências, varejos e restaurantes. O contraste evidencia o tamanho do desafio e a necessidade de ações coordenadas para enfrentar esse problema global.
Como a Coreia do Sul chegou até aqui?
"Pague pelo seu desperdício":
Desde 2013, os sul-coreanos pagam pelo volume de resíduos alimentares descartados. Isso pode ser feito por meio de sacolas especiais, adesivos comprados para empresas ou até máquinas automatizadas com sensores, que calculam o peso e o custo do descarte. Quanto mais você descarta, mais paga.Campanhas e normas rigorosas:
A conscientização é constante. Campanhas educativas mostram como separar os resíduos e destacam os impactos ambientais do desperdício. Além disso, multas pesadas desencorajam o descarte irregular – nas residências, as infrações podem superar R$ 379, enquanto para empresas, as penalidades podem ultrapassar R$ 38 mil.Destino dos resíduos:
Os restos de alimentos têm três principais destinos: ração animal (49%), adubo (25%) e biogás (14%). Apesar de desafios como o alto teor de sal das comidas típicas e a segurança no uso de resíduos para rações animais, o sistema segue avançando, apoiado por regulamentação rigorosa e inovação tecnológica.Aceitação da população:
A adesão ao sistema reflete uma combinação de fatores: campanhas educativas, baixo custo proporcional ao salário médio e uma cultura que valoriza o cumprimento das normas.
Um dia para refletir sobre o desperdício
A ONU reconhece a gravidade desse problema global e, desde 2019, celebra no dia 29 de setembro o Dia Internacional de Conscientização sobre a Perda e o Desperdício de Alimentos. A data reforça a urgência de reduzir o impacto ambiental e social do desperdício, incentivando ações em todas as esferas: da produção ao consumo.
Que tal umas perguntinhas para gente refletir junto?
Apesar de seu sucesso, será que o modelo sul-coreano funcionaria em outros contextos? Em países com alta insegurança alimentar, como na América Latina, faria sentido cobrar pelo descarte? E como promover mudanças de comportamento em locais onde a conscientização sobre consumo responsável ainda é limitada?
Por outro lado, será que damos atenção suficiente aos nossos próprios hábitos? Quanto estamos desperdiçando, em casa ou no trabalho? Como transformar o que descartamos em algo útil? E o mais importante: como podemos, juntos, reduzir o desperdício e incentivar práticas mais sustentáveis?
A solução para desafios globais começa com escolhas locais. Vamos juntos refletir – e agir?